No INESCTEC.OCEAN, a nossa missão vai muito além do desenvolvimento de tecnologia marinha de ponta. Somos guiados por um compromisso mais amplo: garantir que a inovação apoia uma evolução sustentável da forma como a humanidade obtém recursos alimentares do mar. À medida que a procura global por proteína aumenta e os ecossistemas marinhos enfrentam uma pressão sem precedentes, o progresso tecnológico por si só não é suficiente — é necessário repensar a própria forma como interagimos com o oceano.
Os modelos tradicionais de pesca, mesmo quando apoiados por equipamentos avançados, já não conseguem responder à procura sem comprometer a saúde dos ecossistemas marinhos. A sobrepesca, a degradação dos habitats, as alterações climáticas e os efeitos cumulativos da atividade humana continuam a erodir a resiliência do oceano. Em simultâneo, os consumidores dependem cada vez mais do mar, não apenas para o pescado, mas também para fontes alternativas de proteína, como as algas marinhas e outros recursos emergentes da biotecnologia azul.
Reconhecendo estes desafios, o INESCTEC.OCEAN defende uma abordagem holística e alinhada com os ecossistemas à produção alimentar e proteica, na qual a tecnologia atua em estreita articulação com os princípios ecológicos. A nossa investigação visa apoiar a transição de práticas extrativas para práticas regenerativas — em que a utilização dos recursos marinhos contribui para a sua reposição, em vez da sua exaustão.
Um exemplo promissor é o desenvolvimento de sistemas de pesca inteligentes baseados no “pastoreio”, nos quais robôs marinhos autónomos auxiliam na orientação e monitorização de populações naturais de peixes em oceano aberto. Em vez de forçar a produção através de aquacultura intensiva ou danificar equipamentos de pesca, esta abordagem valoriza os ecossistemas naturais, reforçando-os com uma intervenção mínima. Os peixes crescem em condições ambientais ótimas, a biodiversidade é preservada e a captura torna-se seletiva e sustentável.
Contudo, a nossa visão não se limita às pescas. O futuro dos sistemas alimentares marinhos deve também integrar o cultivo e a recolha responsáveis de algas e de outros organismos de baixo nível trófico, que oferecem alternativas nutritivas e de baixo impacto às fontes tradicionais de proteína. A produção de algas, quando integrada com monitorização avançada, robótica e modelação ecológica, tem o potencial de reduzir a pegada de carbono, reforçar a resiliência costeira e diversificar o portefólio alimentar global.
O trabalho multidisciplinar do INESCTEC.OCEAN reúne biologia marinha, robótica, inteligência artificial, biotecnologia azul e ciências ambientais para conceber soluções que respeitem os ecossistemas marinhos, ao mesmo tempo que respondem às necessidades humanas. Acreditamos que o oceano pode — e deve — continuar a ser um fornecedor fundamental de alimento sustentável, mas apenas se a inovação for orientada pela responsabilidade, pelo conhecimento científico e por uma visão de longo prazo.
À medida que avançamos na Década da Ciência do Oceano para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, o nosso compromisso é claro: a tecnologia deve ser uma ferramenta para regenerar o oceano, não para o explorar. Ao alinhar a excelência científica com a integridade ecológica, o INESCTEC.OCEAN pretende contribuir para a transformação da forma como recolhemos, cultivamos e consumimos recursos alimentares marinhos — do peixe às algas, entre outros.
O futuro da Economia Azul depende não só do que somos capazes de inventar, mas da sabedoria com que escolhemos utilizar essas inovações.
Eduardo Silva, Coordenador Científico do INESCTEC.OCEAN e Investigador Sénior do INESC TEC